sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Um carrinho de compras a meia-noite

Sexta-feira à noite. Ou melhor, quase sábado e eu fazendo a feira num supermercado 24 horas. Tudo bem, nada como uma boa música no meu iphone que não resolva, não motive. Já disse que sou muito musical? Tudo para mim tem que ter uma trilha sonora. Penso em uma música para cada momento (risos tímidos). Margarina, açúcar, feijão, arroz... está faltando azeite. Azeite... Azeite... Cadê você azeite? (Tenho mania de personalizar objetos, animais. Só para esclarecer, até meu computador tem um nome kkkkk). Distraído bato num carrinho de compras. Você se vira com um ar de raiva. Mas, no meu bom humor (ou cara de pau, não sei ao certo) tomo iniciativa e digo algo do tipo: “Deveria ter um semáforo para carrinho de compras e um Detran pra me prender aqui dentro”. Você começa a sorrir. Logo aquela cara fechada (e que queria me bater mentalmente) começa a sorrir. Cabelos cacheados, barba por fazer, praticamente, estilo “estudante de jornalismo”. Um sorriso de menino-homem, sorriso ingênuo e safado que desconcerta qualquer pessoa que tenha o romantismo um pouco mais forte do que uma sopinha de letrinhas (kkkkkkk). Saio logo de perto dizendo mentalmente para mim mesmo: “não foi nada. Isso é uma ilusão. Ele é feio, feio, feio, feio...feio... mentiraaaaaaaaaaaaa... é lindo. Mas tudo bem, continuemos. Não é porque alguém sorriu para você que significa que esteja apaixonado. Olha a carência! Ao chegar no caixa, descubro minutos depois que dois carrinhos atrás do meu, está você. Ai, não acredito. Deve ser destino, ne? Universo conspirando? Sei lá o quê. Mas veja como ele é lindo!! (Essa ordem não é para você que não está lá. Mas é uma conversa mental. Deve ser o consciente dizendo para o inconsciente, sei lá. Só sei que faço essas coisas – risos tímidos). De repente, percebo você olhando para minha direção. E não é olhar de Ricardo Macchi, mas sim um olhar como quem cativa, desvenda, invade sem tocar... Ai odeio isso. São 00h30. Eu morto de cansado. Doido para chegar em casa e... justo agora, sou paquerado. Isso é hora?!! (Risos, muitos risos). Começo a passar as compras e percebo que esqueci o atum para a salada. Com minha mania de pensar alto digo: “faltou o atum”. Então, peço a menina do caixa para conseguir que alguém consiga tal item para mim. Segundos depois, sinto alguém tocar em mim. Viro-me e vejo o seu rosto. Um sorriso encantador. Suas armações de óculos assim de perto são mais belas..."Ouvi que você queria atum. No meu carrinho tem dois. Então, tome uma latinha e não percamos mais tempo.” Depois do susto e do surto, pensei alto: “percamos?”. Qual é cara? Não somos crianças, bebês. Pela maneira que você faz as compras, pelos alimentos que há no seu carrinho, você mora só e está solteiro. Eu também estou. Gostei de ti desde o primeiro momento que você entrou no supermercado. Meus olhos te seguiam a cada seção. Você tem uma luz, uma alegria, passa algo muito bom. E isso me encantou. Quero isso para mim. Quero você para mim. E não aceito um “não” como resposta.” Sem graça, engolindo seco. Querendo cavar um buraco. Totalmente sem ação fiquei. Porém, ainda tinha mais surpresa. Ao passar a lata de atum, embaixo da lata senti algo diferente. Era um papel. Seu cartão. Puxei o papel antes que a moça do caixa visse. Nome...... sobrenome.... telefone... E atrás do cartão com uma letra bem desenhada tinha escrito: “Quando você parar de ter medo de amar, será mais feliz”. Olhei para cima e disse: “Tá bom de fora por hoje ne?” (Risos tímidos e quase chateado de tão sem graça).