quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Aquilo que meu olhar guardou para você!

Dia 03 de novembro de 2012. Sábado à noite. Próximo de um feriado. Recife, às vezes, é injusto ao conjugar as palavras “feriado” e “agenda cultural”. Mas tudo bem, naquele dia já estava mais do que certo. Eu iria ver uma peça que já passou, reprisou, voltou, foi e eu não vi. (...) Acabei de chegar do teatro. Vi, até que enfim, a peça do grupo Magiluth: Aquilo que meu olhar guardou para você! Encantado estou! Peça muito boa! Estou refletindo até agora sobre as milhares de informações e emoções que habitam em mim. Uma das cenas mais linda para mim foi a cena da despedida na estação rodoviária. O rapaz de costas segurando uma mala na mão direita e na outra mão acenando. E me pergunto: peça baseada (segundo os próprios atores nos falaram no início) em fotos tiradas na cidade do Recife. Ou seja, texto baseado em cotidiano, em vida. Vida que se mexe, que se move, que se escapa, que se esvai... Quantas pessoas passaram pela minha vida e com suas malas foram embora? Será que eu deixei minha marca nelas? Qual diferença fiz na vida delas? Cena da boate. Um (RE)encontro. Uma (IN)feliz coincidência. Algumas palavras. Uma declaração: te amo. Uma reposta: já? Uma tréplica: quem estabeleceu o tempo para dizer que amamos? Pura verdade! Em que cartilha reza que só podemos declarar amados, amantes depois do 43º encontro? A cartilha da mágoa? Da dor? Do medo de amar? Leve. No mínimo, mais leve seria o mundo se nós não teorizássemos tanto. Oi! Teu nome? Prazer! Podemos ser amigos? Senta aqui, me conta como foi o teu dia hoje! Eu curti tua foto no face. Eu te adicionei no twitter. (...) Em um mundo globalizado, onde as relações são líquidas (cf. Zygmunt Bauman). Só porque te tenho no face ou porque te vi duas vezes já nos tornamos amigos? Você me deu um lugar para sentar. Foi gentil. Isso constitui interesse afetivo? Um mundo mergulhado na piscina dos seus umbigos fica fadado a se apaixonar com um espirro e exigir “até que a morte nos separa” para o cobrador de ônibus, ne? Desconstrução. Essa é a palavra-mestra. Palavra-chave que resume (sem querer diminuir) a peça “Aquilo que meu olhar guardou pra você”. São Francisco de Assis, certa vez disse: “para construir a igreja, é preciso destrui-la”. Quantas coisas em nossas vidas precisam ser reconstruídas? Sonhamos com mudanças, desejamos novos ares, mas não queremos pagar o preço da dor da desconstrução. Fruto de uma sociedade que desaprendeu com a dor, desaprendeu a ver o belo na dor e saber que amor e dor não são tão opostos, eles são vizinhos, quase inquilinos da mesma casa: o amor. Esse texto era para ser diferente. Esse blog não deveria ter esse texto. Afinal... Afinal um cacete, estou aqui para desconstruir e construir. Você ainda não entendeu? Experimente essa desconstrução-construção e depois conversaremos. Experimente ver a peça de novo! Ei, psiu! Como é o seu nome mesmo?

domingo, 4 de novembro de 2012

"Amor, me ajuda!"

Domingo. Eu em casa. Sozinho. Você foi comprar nossa comida. Depois de uma briga, depois de um fim de semana fazendo as pazes, eu fico aqui fazendo memórias. Na sacada de nossa casa. De frente para o céu em que o sol se põe e é testemunha de minhas lembranças. Lembranças que me fazem sorrir e chorar ao mesmo tempo. Engraçado isso! Que contradição! Mas, tudo bem, é um choro de alegria curtido ao recordar o dia em que nos conhecemos. Eu tinha terminado um relacionamento. Estava sensível, abusado. Os amigos me chamaram para sair e não dar “asas à solidão e à depressão”. Recife Antigo, um domingo de tardezinha. Um dos meus lugares preferidos. Os meninos (meus amigos) sabiam disso, por isso fizeram questão de me levar para lá. Passeávamos, conversávamos,ríamos muito e... de repente, você passa. Ao longe me elege como objeto do seu olhar. Dessa vez, eu não percebi. Meus amigos mostram-me você. Olhei. Gostei do que vi. Porém, a dor do rompimento do relacionamento era grande. Daquele dia em diante prometi que ficaria sozinho e não sofreria mais. Uma espécie de defesa da minha parte. Depois de mais algumas caminhadas, o Juninho encontra um grupo de amigos. Nesse momento, estávamos longe comendo tapioca, rindo, nós nos sujávamos ao comer e tentar equilibrar tapioca, refrigerante, sorriso, piadas. Juninho se aproxima. Ele e os amigos dele. Alguém me cutuca. O outro pisa no meu pé. Os meninos tentavam chamar minha atenção, pois eu estava rindo e nem aí “para o Brasil”. No meio dos amigos de Juninho, estava você. Tomei um susto. 10 segundos de silêncio que pareceram uma eternidade. E você me olhava de uma forma tão decidida. Uma maneira que gosto, que desejo, que espero, mas me dava uma ponta de medo. E pensava: “ai, de novo não. Por favor, para! Não quero me apaixonar. Eu conheço esse olhar. Céus, alguém aí em cima manda ele parar de me olhar assim”. Eu e minha mania de pensar 10 kilos de coisas em poucos segundos. O pior não foi isso. Quando nos conhecemos, eu com as mãos entre a tapioca e o refrigerante. Estava com um pouco de comida no canto esquerdo do rosto, perto da boca. E você com delicadeza e ousadia, pede licença, toca no meu rosto e diz: “parece um menino comendo, deixa eu te ajudar”. Ai!! Naquele instante um misto de raiva e alegria tomou conta de mim. Como é que você nem me conhecia e me chamava de “menino”, de criança. E ainda ousava tocar em mim. Quem disse que eu precisava de ajuda? Da sua ajuda? Ai, esse meu orgulho, sei não! (risos tímidos). Ao mesmo tempo, tudo foi tão delicado. Expressões de cuidado que revelam mais do que palavras possam falar da alma do outro. Dois anos se passaram. Continuo comendo tapioca e me sujando. Continuo sendo um menino-homem que ri, chora, faz birra... e continuo sendo cuidado por esse homem lindo que chega aí, abrindo o portão com uma pizza na mão dizendo: “Amor, me ajuda!”