domingo, 4 de novembro de 2012

"Amor, me ajuda!"

Domingo. Eu em casa. Sozinho. Você foi comprar nossa comida. Depois de uma briga, depois de um fim de semana fazendo as pazes, eu fico aqui fazendo memórias. Na sacada de nossa casa. De frente para o céu em que o sol se põe e é testemunha de minhas lembranças. Lembranças que me fazem sorrir e chorar ao mesmo tempo. Engraçado isso! Que contradição! Mas, tudo bem, é um choro de alegria curtido ao recordar o dia em que nos conhecemos. Eu tinha terminado um relacionamento. Estava sensível, abusado. Os amigos me chamaram para sair e não dar “asas à solidão e à depressão”. Recife Antigo, um domingo de tardezinha. Um dos meus lugares preferidos. Os meninos (meus amigos) sabiam disso, por isso fizeram questão de me levar para lá. Passeávamos, conversávamos,ríamos muito e... de repente, você passa. Ao longe me elege como objeto do seu olhar. Dessa vez, eu não percebi. Meus amigos mostram-me você. Olhei. Gostei do que vi. Porém, a dor do rompimento do relacionamento era grande. Daquele dia em diante prometi que ficaria sozinho e não sofreria mais. Uma espécie de defesa da minha parte. Depois de mais algumas caminhadas, o Juninho encontra um grupo de amigos. Nesse momento, estávamos longe comendo tapioca, rindo, nós nos sujávamos ao comer e tentar equilibrar tapioca, refrigerante, sorriso, piadas. Juninho se aproxima. Ele e os amigos dele. Alguém me cutuca. O outro pisa no meu pé. Os meninos tentavam chamar minha atenção, pois eu estava rindo e nem aí “para o Brasil”. No meio dos amigos de Juninho, estava você. Tomei um susto. 10 segundos de silêncio que pareceram uma eternidade. E você me olhava de uma forma tão decidida. Uma maneira que gosto, que desejo, que espero, mas me dava uma ponta de medo. E pensava: “ai, de novo não. Por favor, para! Não quero me apaixonar. Eu conheço esse olhar. Céus, alguém aí em cima manda ele parar de me olhar assim”. Eu e minha mania de pensar 10 kilos de coisas em poucos segundos. O pior não foi isso. Quando nos conhecemos, eu com as mãos entre a tapioca e o refrigerante. Estava com um pouco de comida no canto esquerdo do rosto, perto da boca. E você com delicadeza e ousadia, pede licença, toca no meu rosto e diz: “parece um menino comendo, deixa eu te ajudar”. Ai!! Naquele instante um misto de raiva e alegria tomou conta de mim. Como é que você nem me conhecia e me chamava de “menino”, de criança. E ainda ousava tocar em mim. Quem disse que eu precisava de ajuda? Da sua ajuda? Ai, esse meu orgulho, sei não! (risos tímidos). Ao mesmo tempo, tudo foi tão delicado. Expressões de cuidado que revelam mais do que palavras possam falar da alma do outro. Dois anos se passaram. Continuo comendo tapioca e me sujando. Continuo sendo um menino-homem que ri, chora, faz birra... e continuo sendo cuidado por esse homem lindo que chega aí, abrindo o portão com uma pizza na mão dizendo: “Amor, me ajuda!”

2 comentários:

  1. Texto perfeito,só percebe a riqueza de tantos sentimentos quem tem a sensibilidade de amar,de cuidar.Enxerga-se a grandeza de uma alma em sua essência quando se permite viver uma história real.
    Parabéns meu querido Luíz, por nos dar a oportunidade de te enxergar-te um pouco por dentro.

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  2. Parabéns por saber o que é amar !! adorei o texto-história de vocês. Abração, tudo de bom.



    Stuart.

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